“PARADOXO PAULISTANO ARTÍSTICO”
São Paulo, 02/12/2013
Prezados Senhores:
Muito me surpreendeu, quando uma colega professora e uma de minhas alunas me interloucutaram sobre o fechamento do vão livre do MASP é que eu não esperava, pois não tive notícia nenhuma sobre esse assunto, vejam aos domingos trabalho na FEIRA DE ANTIGUIDADES e nada chegou aos nossos ouvidos, digo: dos expositores.
À professora respondi que a notícia não procedia, pela lógica, lógico!
Mas à minha aluna resolvi dar um bom trato na resposta. Lembrei-me de um amigo e cliente que me visitava, quando ainda tinha meu escritório no Edifício Conde Andrea Matarazzo, praticamente em frente ao Museu, na época quem me sedia o espaço era Dr. Dilson Funaro, eu não me lembro do nome deste senhor, mas me contava sobre a doação do terreno que pertencia aos seus antepassados, para a construção do prédio que abrigaria o MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO, anteriormente instalado no prédio dos Diários Associados, na Rua Sete de Abril. Uma condição era básica: não poderia impedir que os transeuntes, visitantes ou mesmo que a população local, fossem privados da vista que tinham ao olhar para o centro da cidade, a partir do próprio Belvedere.
Assim considerando essa condição a arquiteta Lina Bo Bardi, passou a elaborar seu projeto, lindíssimo, por sinal, mas não o contrário, lógico que não procede que uma artista do quilate dela, perdesse tempo com uma construção feia em sem a estética condizente.
Outra coisa é a razão que levou a arquiteta a construir o enorme vão livre, depositando todo o peso sobre as quatro colunas vermelhas, conforme me contou o visitante e cliente, era para não sobrar peso sobre os túneis da Avenida 9 de Julho, que passam bem em baixo.
O prédio é arrojado e belíssimo!
Portanto, dentro deste conceito, nunca seria viável cercar o Belvedere, da Avenida Paulista, as razões são de ordem filosófica e justifica a área aberta sem importar a quem. Se haverá policiamento ou assistência social para drogados e etc., isso é pura especulação. Há órgãos competentes como CONDEFAAT, IPHAN, IBRAN e etc. que impedirão esse absurdo, com certeza.
Cercar o MASP, eu nunca acreditaria neste paradoxo!
Líbano Montesanti Calil Atallah
Diretor de Imagem Pública
WWW.ARTPONTO.COM
COMENTÁRIO À MATÉRIA
PUBLICADA NA
FOLHA DE SÃO PAULO
ABAIXO REPRODUZIDA
02/12/2013 - 03h00
O Masp e
a casa da sogra
Há duas semanas o
"Estadão" defendeu em seu editorial o cercamento do vão livre do Masp
como forma de proteger o museu da ameaça de "viciados",
"traficantes", "moradores de rua" e "grupos de
manifestantes" que tomaram conta do espaço.
O jornal reverberou declarações
do curador do museu, Teixeira Coelho, que, diante da recusa do Instituto do
Patrimônio Artístico e Histórico Nacional em aceitar seu pedido de instalação
de grades no vão livre, classificou tal posição como "um atraso".
Outra solução levantada pelo
editorial seria "uma ação enérgica" da polícia, "para colocar
cada um no seu devido lugar", já que o vão livre se tornou "a casa da
sogra", "onde qualquer um faz o que bem entende".
Reportagem da Folha da
última sexta-feira estampa barracas de camping ocupando o espaço, servindo de
moradia a pessoas sem teto, e reitera a imagem de "abandono" do
lugar.
Não é à toa que o Masp se tornou
um dos símbolos de São Paulo, além de um dos lugares mais apropriados pelos
paulistanos. Poucos são os espaços da cidade que estabelecem uma relação tão
bem-sucedida entre o público e o privado, a cultura, a arte e a vida cotidiana
dos cidadãos.
Na contramão dos equipamentos
culturais desenhados para serem monumentos de celebração a uma arte-mercadoria,
glamourizada e identificada com as elites, o Masp nasceu para ser uma espécie
de antimuseu, radicalmente aberto para a cidade.
Em filme de 1972, Lina Bo Bardi,
autora do projeto, fala sobre o Masp: "[...] minha preocupação básica foi
a de fazer uma arquitetura feia, uma arquitetura que não fosse uma arquitetura
formal, embora tenha ainda, infelizmente, problemas formais. Uma arquitetura
ruim e com espaços livres que pudessem ser criados pela coletividade. Assim
nasceu o grande belvedere do museu, com a escadinha pequena. A escadinha não é
uma escadaria áulica, mas uma escadinha-tribuna que pode ser transformada em um
palanque. Eu quis fazer um projeto ruim. Isto é, feio formalmente e
arquitetonicamente, mas que fosse um espaço aproveitável, que fosse uma coisa
aproveitada pelos homens".
O vão livre do Masp é, portanto,
o próprio museu. E os moradores da cidade, celebrando este belo presente,
afirmam todos os dias seu caráter público: heterogêneo e múltiplo, ocupado e
povoado por todo e qualquer tipo de gente, de evento e de situação, afirmando
ali a dimensão pública da arte, da cultura e da cidade.
Se nos choca e indigna ver o vão
do Masp (e outros espaços públicos) ocupado por pessoas viciadas em crack e
moradores sem teto, é de políticas públicas decentes de saúde mental, de
moradia e de assistência social que necessitamos, com urgência.
Não são as grades nem a
repressão policial que vão enfrentar a situação de vulnerabilidade em que se
encontram muitos paulistanos. Se eles estão ali, expondo a precariedade e a
situação limite de sua existência, é porque, simplesmente, não há nada nem
ninguém que os acolha, propondo alternativas reais para essa situação.
A imagem das barracas armadas no
Masp só afirma a urgência de implementação de políticas que avancem nesta
direção. Uma boa gestão de cidade mantém a qualidade de seus espaços públicos
cuidando tanto de seu estado físico de conservação quanto da vulnerabilidade de
parte de seus cidadãos.
Se o vão livre do Masp tem sido
cada vez mais palco de manifestações, é justamente por acolher de forma tão
eloquente uma das reivindicações centrais dos protestos recentes: a necessidade
de constituição de uma esfera verdadeiramente pública no Brasil.
_________________________
_________________________
fale com nossa diretoria
fale com nossa diretoria
libanoatallah@terra.com.br
WWW.TVARTPONTO.COM
artponto.org@terra.com.br
_________________________
Líbano Montesanti Calil Atallah
libanoatallah@terra.com.br
WWW.TVARTPONTO.COM
artponto.org@terra.com.br
_________________________
Líbano Montesanti Calil Atallah
_________________________
Líbano Montesanti Calil Atallah